O que é a arte?
Esta é uma pergunta que não possui uma resposta única e definitiva. E, quando se pergunta o que é a arte, se pergunta também quais são as fronteiras que definem artes como a música, a pintura, a escultura, a dança, o teatro, entre outras. Apesar desta indefinição, na filosofia há um ramo que lida com a noção de arte: a estética. Nesta, os filósofos definem arte como sendo o ramo da atividade humana que lida com o belo. Só que ficamos noutro beco sem saída, pois esta noção de belo é também indefinida, havendo dois critérios fundamentais, ao longo da história da filosofia, utilizados para aferir o que é belo: o critério ligado ao lado emocional (neste se inserem os autores que seguem a linha de pensamento de Aristóteles, conhecido filósofo grego que viveu no século IV a.C.; esta linha de pensamento pode ser designada de aristotélica) e o critério ligado ao lado racional (neste se inserem os autores que seguem a linha de pensamento de Pitágoras, conhecido filósofo grego que viveu entre a segunda metade do século VI a.C e o princípio do século V a.C.; esta linha de pensamento pode ser designada de pitagórica). Esta dialética, entre o emocional e o racional enquanto critérios de validação do que é o belo, permanece até hoje sem solução, sendo que, ciclicamente, um ou o outro critério são predominantes na validação do que é a arte. Por exemplo, enquanto que o critério emocional predomina durante o Romantismo, o racional caracteriza fundamentalmente o período Barroco, e algumas das correntes de vanguarda do século XX, na história da arte.
A arte vive ainda de uma relação estabelecida entre duas funções distintas que a caracterizam: a da criação artística e a da fruição da obra de arte. À criação corresponde o artista que cria e produz uma determinada obra de arte; à fruição corresponde o usuário que desfruta e aprecia essa mesma obra de arte. Sem o artista, o usuário não teria obra de arte para apreciar, mas sem o usuário ao artista faltaria motivação para a sua produção artística. Assim se pode dizer que ambos (o artista e o usuário) são fundamentais para a existência da arte tal como nós a conhecemos.
Já a função de criação da obra de arte pelo artista se subdivide em duas fases distintas: uma que corresponde à criação da ideia por detrás da obra de arte, e outra que corresponde ao transformar dessa ideia na obra de arte propriamente dita. Vamos chamar a essa primeira fase de fase de composição da obra e à referida segunda fase de fase de execução da obra de arte, sendo que é nesta segunda fase que a ideia artística, surgida durante a mencionada primeira fase, toma corpo se tornando numa obra de arte propriamente dita. Por exemplo, o escultor primeiro imagina a escultura que pretende produzir (primeira fase) para depois poder dar a forma material a essa sua ideia artística (segunda fase), esculpindo a pedra ou moldando um outro qualquer material com que trabalhe (bronze, madeira, etc.).¹
Neste sentido, nos interessa compreender que há formas de arte que são perenes, i.e., cujo objeto artístico produzido na referida segunda fase permanece no tempo -- por exemplo, isso é o que acontece com a pintura ou com a escultura, bem como com a literatura --, enquanto que, pelo contrário, outras formas de arte há onde o objeto artístico desaparece imediatamente após o mesmo ter sido produzido nesta segunda fase. Este é o caso, por exemplo, da música -- onde o som só existe enquanto o mesmo é tocado ou cantado, não permanecendo no tempo --, ou da dança -- onde o movimento do corpo só existe no preciso momento em que este é realizado. Ou seja, a música e a dança são formas de arte não perene.
Ora, se o nosso objetivo for o de permitir que em formas de arte não perene se possa apreciar a mesma obra em momentos temporais distintos, então precisamos de alguma forma de registro que fixe a ideia criativa do artista para que a mesma possa ser de novo produzida a cada vez que se pretenda apreciar essa mesma obra de arte. Esta é uma necessidade exclusiva das formas de arte não perene, as quais necessitam de uma forma de registro, tradicionalmente designada de escrita musical ou de coreografia no que à música e à dança especificamente dizem respeito. Mais modernamente, a gravação mecânica veio permitir o registro e a execução de obras de arte não perene sem o necessário recurso aos processos tradicionais de escrita. Mas para todos os efeitos, a gravação de áudio e/ou vídeo não mais é do que uma forma de registro e execução mecânica que nos permite transformar formas de arte que eram até então não perenes, em formas de arte que podemos passar a considerar serem semi-perenes. Contudo, tal fato não afasta completamente a necessidade de uso de formas mais tradicionais de registro, até por que nem sempre a ideia do artista pode ser corretamente interpretada por um processo exclusivamente mecânico. Por exemplo, existem artistas que exploram a interação com o público e/ou intérprete -- no caso da música e da dança, por exemplo --, tornando a sua obra numa forma aberta, onde cada execução é para ser diferente da anterior, isto apesar de alguns dos seus elementos estarem previamente fixados em alguma forma de registro.
NOTAS
¹ Na verdade, o processo criativo pode-se tornar bem mais complexo, com um constante ir e vir entre estas duas fases, não havendo uma clara divisão entre a fase de composição e a fase de execução da obra de arte. Por exemplo, quando um músico improvisa, torna-se simultaneamente criador (compositor) e intérprete (executor) da sua própria obra, não nos permitindo claramente distinguir em que momento cada uma destas duas fases ocorre. Na verdade, elas acabam por ser simultâneas e coexistentes uma com a outra.
A arte vive ainda de uma relação estabelecida entre duas funções distintas que a caracterizam: a da criação artística e a da fruição da obra de arte. À criação corresponde o artista que cria e produz uma determinada obra de arte; à fruição corresponde o usuário que desfruta e aprecia essa mesma obra de arte. Sem o artista, o usuário não teria obra de arte para apreciar, mas sem o usuário ao artista faltaria motivação para a sua produção artística. Assim se pode dizer que ambos (o artista e o usuário) são fundamentais para a existência da arte tal como nós a conhecemos.
Já a função de criação da obra de arte pelo artista se subdivide em duas fases distintas: uma que corresponde à criação da ideia por detrás da obra de arte, e outra que corresponde ao transformar dessa ideia na obra de arte propriamente dita. Vamos chamar a essa primeira fase de fase de composição da obra e à referida segunda fase de fase de execução da obra de arte, sendo que é nesta segunda fase que a ideia artística, surgida durante a mencionada primeira fase, toma corpo se tornando numa obra de arte propriamente dita. Por exemplo, o escultor primeiro imagina a escultura que pretende produzir (primeira fase) para depois poder dar a forma material a essa sua ideia artística (segunda fase), esculpindo a pedra ou moldando um outro qualquer material com que trabalhe (bronze, madeira, etc.).¹
Neste sentido, nos interessa compreender que há formas de arte que são perenes, i.e., cujo objeto artístico produzido na referida segunda fase permanece no tempo -- por exemplo, isso é o que acontece com a pintura ou com a escultura, bem como com a literatura --, enquanto que, pelo contrário, outras formas de arte há onde o objeto artístico desaparece imediatamente após o mesmo ter sido produzido nesta segunda fase. Este é o caso, por exemplo, da música -- onde o som só existe enquanto o mesmo é tocado ou cantado, não permanecendo no tempo --, ou da dança -- onde o movimento do corpo só existe no preciso momento em que este é realizado. Ou seja, a música e a dança são formas de arte não perene.
Ora, se o nosso objetivo for o de permitir que em formas de arte não perene se possa apreciar a mesma obra em momentos temporais distintos, então precisamos de alguma forma de registro que fixe a ideia criativa do artista para que a mesma possa ser de novo produzida a cada vez que se pretenda apreciar essa mesma obra de arte. Esta é uma necessidade exclusiva das formas de arte não perene, as quais necessitam de uma forma de registro, tradicionalmente designada de escrita musical ou de coreografia no que à música e à dança especificamente dizem respeito. Mais modernamente, a gravação mecânica veio permitir o registro e a execução de obras de arte não perene sem o necessário recurso aos processos tradicionais de escrita. Mas para todos os efeitos, a gravação de áudio e/ou vídeo não mais é do que uma forma de registro e execução mecânica que nos permite transformar formas de arte que eram até então não perenes, em formas de arte que podemos passar a considerar serem semi-perenes. Contudo, tal fato não afasta completamente a necessidade de uso de formas mais tradicionais de registro, até por que nem sempre a ideia do artista pode ser corretamente interpretada por um processo exclusivamente mecânico. Por exemplo, existem artistas que exploram a interação com o público e/ou intérprete -- no caso da música e da dança, por exemplo --, tornando a sua obra numa forma aberta, onde cada execução é para ser diferente da anterior, isto apesar de alguns dos seus elementos estarem previamente fixados em alguma forma de registro.
NOTAS
¹ Na verdade, o processo criativo pode-se tornar bem mais complexo, com um constante ir e vir entre estas duas fases, não havendo uma clara divisão entre a fase de composição e a fase de execução da obra de arte. Por exemplo, quando um músico improvisa, torna-se simultaneamente criador (compositor) e intérprete (executor) da sua própria obra, não nos permitindo claramente distinguir em que momento cada uma destas duas fases ocorre. Na verdade, elas acabam por ser simultâneas e coexistentes uma com a outra.